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A hegemonia Amazon no mundo literário – e o perigo disso para os autores

Nos últimos meses, um movimento anti-Amazon começou no Twitter. Claro, sempre o Twitter, quer dizer, X. Isso porque a plataforma KDP encerrou as contas de muitos autores sem dar uma justificativa, cancelou e atrasou lançamentos e, como posso colocar isso? Paga mal.

Para muitos, essa perda de contas e lançamentos significou também perder dinheiro. Além do que estava acumulado na conta – porque recebemos o retroativo da plataforma – ter que abrir outra conta e começar do zero as avaliações, resenhas e tudo que já existia no perfil do autor acaba sendo perda de dinheiro também. Mas será que é possível realizar um movimento literário de sair da toda-poderosa-Amazon?

Convenhamos: ela democratizou a publicação

O KDP se tornou uma plataforma muito democrática: qualquer um pode publicar livros por lá e GANHAR por isso. Isso foi uma novidade entre as plataformas de publicação de e-books, já que todas que existiam até o momento (2012) não davam meios de monetização do seu trabalho. Como o dinheiro move o mundo, muitos autores viram no KDP uma oportunidade de realmente viver o sonho: publicar um livro, angariar leitores e ser pago.

Neste artigo do El País Brasil (que infelizmente não publica mais), eles comentam sobre o boom da autopublicação, que aconteceu em 2015 e, desde então, não parou mais. Os autores viram na plataforma de autopublicação da Amazon uma liberdade de não precisar mais ser descobertos, não precisar mais depender de editoras tradicionais. E isso realmente democratizou a publicação de livros.

Mas democratizou a leitura? E essa é a chave para todo o movimento que está acontecendo e ainda pode acontecer (ao meu ver).

Muita oferta na Amazon, pouca demanda no Brasil

Eu nunca estudei nada de administração, o que é um erro meu, afinal, eu sou uma empresa, mas eu conheço o básico da lei da oferta e demanda: se tem muita oferta e pouca demanda, os preços baixam, assim há mais chance de compra e venda.

A oferta de e-books na Amazon se tornou gigantesca nos últimos anos, realmente muito grande. Em compensação, os hábitos de leitura da maioria dos brasileiros não mudou, continua sendo menos de 4 livros ao ano. E a leitura de e-books ainda não é bem vista pelo brasileiro médio. Se você perguntar para dez pessoas se elas preferem ler livros digitais ou físicos, nove responderão livros físicos.

Os autores independentes (eu inclusa) estamos em uma bolha onde as pessoas amam ler nacionais pelo Kindle Unlimited, compram nossa pré-venda, recebem os brindes e postam nas redes. É uma bolha linda, eu amo, mas é bem pequena.

A maioria das pessoas só vai saber que você publicou um livro, e só vai ler essa obra, se você publicar de forma física e estiver em livrarias. Com isso você vai conseguir furar a bolha.

É uma realidade dura e triste, mas ainda é a realidade.

Então a Amazon, por ter tanta oferta e pouca demanda força os autores a colocarem seus livros a R$1,99 para tentarem ser lidos. Ainda os força a colocar o livro gratuito para assinantes Kindle Unlimited, pagando R$0,006 por página lida para o autor. Sim, menos de 1 centavo por página lida. A moeda de 1 centavo nem existe mais.

Sendo bem extremista, nós, autores brasileiros (estou falando apenas do cenário independente nacional), temos que nos rebaixar em busca de leitores. Por que é tão fácil para as pessoas comprarem um livro internacional por R$60, mas não comprar meu e-book por R$2? Isso é muito estranho, não é?

É possível acabar com a hegemonia da Amazon na literatura independente?

Citando provavelmente todos os filmes da Disney: tudo é possível se você acreditar.

Isso não quer dizer que não será difícil para um caral**!

Existem plataformas de publicação surgindo, como a Scriv, onde eu estou publicando meu novo livro, Matérias do Coração, e o Tapas, bastante conhecido pelos HQs e loja de merchan, que pagam os autores. Mas, o que eu estou sentindo na pele ao fazer essa transição, é que ninguém conhece essas novas plataformas e nós, humanos, não confiamos no que não conhecemos.

A Amazon tem o nome, as outras têm o sonho.

Para conseguir ter o mesmo resultado que você tem na Amazon em outras plataformas, você precisa de uma base de leitores fiéis, aqueles leitores que comprariam até mesmo a sua lista de compras do supermercado se você vendesse – e conseguir essa base de leitores é muito difícil e requer um trabalho de anos.

Foi justamente esse o ponto da autora Letícia Kartalian nesse tweet: ela já tem um publico formado e ser autora é sua fonte de renda principal GRAÇAS à Amazon. Para ela e para as pessoas que já tem seu ganha-pão nessa plataforma, sair dela não é uma opção palpável e isso é supercompreensível: precisamos de dinheiro para sobreviver.

Como sair desse ciclo?

Estou listando aqui dificuldades, e até as dificuldades que eu estou passando para sair dessa hegemonia, para mostrar que o movimento é grande e precisa ser em grupo. Não adianta nada eu, lá, bonita, sair da Amazon e SÓ EU publico em outro lugar. Ou isso vai dar muito certo ou muito errado, e é mais comum que dê muito errado, porque as pessoas leem outros autores.

Agora, vamos supor que alguns autores de romance topem vir comigo e publicar na Scriv também. Os leitores de romance vão se sentir contemplados por uma plataforma onde há diversas opções de livros do gênero que eles gostem e, assim, vão migrar junto com os autores.

Afinal, um escritor e seu livro não são nada sem leitores.

E um escritor sem amigos escritores acaba sozinho no mundo e no mercado editorial, que pode te comer vivo.

Que fique claro, não estou fazendo um “Manifesto anti-Amazon” kkkk Eu não tenho nem o direito de fazer isso, já que nos últimos meses estou recebendo meus R$10 por mês por venda dos meus livros e links de associados. Mas estou dando este conselho para você, escritor e leitor: veja mais opções.

Há um mundo de possibilidades que você pode estar perdendo porque está olhando apenas para a dominante do mercado.

Dito isso, fiz um vídeo em parceria com a Scriv explicando como publicar um livro lá na plataforma deles, e se você é escritor, essa é uma opção para o seu próximo lançamento. Deixa aqui nos comentários o que acha que vai rolar nos próximos capítulos dessa novela “anti-Amazon”!

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