Quando me tornei a cinéfila exigente?
Esses dias, lá estava eu escolhendo o que iria assistir entre as milhares de opções que a Amazon Prime Video me oferece. Demorei alguns minutos, mas finalmente escolhi um filme nacional, porque nos últimos meses venho procurado consumir mais produções brasileiras. Aliás, estou adorando fazer isso, tenho descoberto novas produções ótimas, e novos nomes que, quem sabe um dia, ainda trabalhemos juntos.
Dei o play, me ajeitei no sofá. Já acostumada com os vários logos que abrem os produtos audiovisuais brasileiros – uma das provas que é uma área desvalorizada que precisa procurar dezenas de patrocinadores para que realize uma produção -, continuei em expectativa. E então surge um grande letreiro explicando o contexto (tudo bem, escolhas do roteirista e/ou do diretor), seguido por um longo crédito inicial. Caramba, a história nunca vai começar? Prestei bastante atenção aos créditos iniciais, pois junto com a música tinha a fala de um personagem. Gosto de ler os nomes nos créditos iniciais e finais. E uma surpresa desanimadora: só vi o nome de duas mulheres, em meio a dezenas de homens.
Finalmente o filme começou, me empolguei com o elenco, um bom elenco. Mas não conhecia o diretor. Nos primeiros minutos – primeiros e únicos que assisti – percebi que era alguém que não tinha a menor experiência ou que simplesmente caiu de gaiato no mundo do cinema. Primeiro, as escolhas estéticas jogadas a esmo, sem transmitir a emoção que pedia a cena. Segundo, o elenco era tão bom, dirigi-los não seria tirar leite de pedra, mas a direção de atores foi tão rasa, parecia que os atores tiveram que construir tudo sozinhos.
Quem conhece a área sabe que a direção de atores é extremamente importante para a criação do personagem e a criação da cena. Tudo tem que estar em consonância. Quando eu percebi que nem 10% do potencial daqueles atores foi explorado, eu dei stop e voltei à tela inicial do streaming. Tão decepcionada, me rendi ao cinema internacional. Nos primeiros segundos do filme já notei a diferença. O mais interessante é que ambas as histórias se passavam na mesma época, mas isso não vem ao caso.
Quando me tornei a cinéfila exigente? Aquela que analisa tudo, que critica, que pensa modos que poderiam ter sido melhores? Claro que depois da faculdade comecei a notar certos detalhes nos filmes que antes não me chamavam a atenção. Hoje certas coisas saltam aos meus olhos. Às vezes de forma positiva, outras vezes, negativa.
O que mais me entristeceu e me fez escrever esse ensaio, foi ser um filme brasileiro a me trazer tal reflexão.
Já assisti (ou parei de assistir no meio) diversos filmes estrangeiros que eram, de alguma forma, ruins. Nenhuma das vezes me abalou. Essa vez, em especial, me desestabilizou porque há tantos realizadores procurando espaço no nosso audiovisual, realizadores muito bons que não conseguem o dinheiro ou a oportunidade por diversos motivos. Mas aquela gama, a gama que acha que apenas o berço já é o bastante, essa consegue dinheiro, patrocínio e espaço para criar. Criar mais do mesmo, ou melhor, menos do mesmo.
Acredito que mais do que a cinéfila exigente, eu me tornei a cinéfila exigente por justiça. E eu estou bem com isso. Quero mesmo lutar pelo bom audiovisual brasileiro, aquele que vai prender a nossa população às cadeiras de cinema e aos sofás, ansiosos por assistir mais um de nossos produtos – pagar por isso e valorizá-los.