Audiodescrição resumida: foto uma gangorra equilibrada. De um lado, símbolo do masculino e do outro, do feminino. à frente da foto, em letras brancas, igualdade de gênero no entretenimento.
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Mulheres no entretenimento: uma jornada sem fim

Com a leitura de “Só as Partes Engraçadas“, livro autobiográfico da Nell Scovell, fiquei intrigada para procurar por mais números da indústria do entretenimento quando o assunto é igualdade de gênero. Conclusão: em nenhuma indústria há igualdade, na do entretenimento menos ainda.

Scovell fala no livro sobre o artigo que ela escreveu para a Vanity Fair, “Letterman e eu”, onde ela discorre sobre o tempo em que trabalhou como roteirista no famoso programa de auditório “Late show with David Letterman”. Na época, ela era a única mulher na sala de roteiristas do programa. Ela abre o artigo dizendo “nos principais talk-shows americanos há [em 2009] em torno de 50 roteiristas, sendo que nenhum deles é mulher”.

Justamente por isso esses programas foram extremamente machistas por tantos anos – e alguns continuam sendo. Sem a representação feminina, não há como fazer boas piadas.

Se mudarmos de canal e chegarmos ao Cinema, de acordo com um estudo conduzido por pesquisadores da American Film Institute Archive e IMDb, em mais de 26 mil filmes analisados da época de ouro de Hollywood (1927-1945), 40% dos cargos em atuação e menos de 1% dos cargos em direção e produção eram ocupados por mulheres.

Que o Cinema é uma área machista, não é novidade. Isso está mudando aos poucos, estamos presenciando mais cargos de produção e direção – cabeças de equipe – sendo ocupados por mulheres e outras minorias.

Play?

Mais do que um convite para jogar video-game, quero convidar também para analisarmos alguns dados da indústria dos games e a representação feminina nesse tipo de entretenimento. Não raro vemos personagens femininas super sexualizadas em jogos.

Isso está melhorando? Em partes. Em um dos jogos de maior sucesso da atualidade, League of Legends, as skins mais populares ainda representam um ideal feminino sexualizado . Do mesmo modo podemos ver representações sem profundidade de personagens femininas em jogos como GTA V – em que você pode atropelar uma prostituta e nem ser preso por isso.

Já quando o assunto é mulheres atrás das telas, de acordo com uma pesquisa da revista Valor, mais mulheres jogam video-game do que homens, porém mais homens se dizem – e são reconhecidos como – gamers.

Os e-sports estão cada vez mais populares e cada vez mais rentáveis, mas ainda é raro vermos holofotes em times femininos. Em 2016, a organização de um campeonato de League of Legends recusou a participação de um time misto, afirmando que existiam regras que impediam mulheres no competitivo. Isso não acontece mais com frequência – pelo menos não é noticiado na mídia -, mas 2016 não está tão longe assim para que essa atitude tenha ocorrido.

Cantoras no auge

Há quem se engane quando vê tantas mulheres batendo recordes de vendas na indústria da música ou quem leva em consideração o sucesso da Anitta para exemplificar a representividade feminina na música. De acordo com o levantamento realizado em 2020 pela União Brasileira de Compositores, 80% das artistas relataram que ainda sofrem algum tipo de discriminação no trabalho.

Nessa entrevista que a Rolling Stone fez com a Leila Oliveira, Diretora Comercial da Warner Music Brasil, podemos ver diversos traços da desigualdade de gênero, que é marca do machismo estrutural e ainda forte na indústria do entretenimento.

Precisamos continuar lutando pelo nosso espaço e por respeito na indústria do entretenimento. Sem objetificação, sem sexualização, sem discriminação. Quero terminar esta reflexão deixando uma tarefa de casa: nas suas obras de arte e entretenimento favoritas, as mulheres estão ocupando algum papel de liderança? Direção, Roteiro, Produção… E vou te fazer pesquisar ainda mais longe, procure notícias sobre a produção do filme, da série, do álbum, para ver se não houve alguma discriminação ou abuso contra as mulheres da equipe.

Indicações Rápidas

Uma lista: Essa da Carta Capital de mulheres cientistas;

Um artigo: Esse sobre disciplina;

Uma playlist: Mulheres Bem Resolvidas (porque mulher também transa e sente tesão);

Uma série: Ginny & Georgia (Netflix), que diz muito sobre ser  mulher em diferentes fases da vida;

Um filme: A Filha Perdida (Netflix), que reflete sobre o papel de mãe;

Um livro: Sol em Júpiter, da Lola Salgado, uma autora nacional que eu adoro;

Um vídeo: Esse em que a Sophia Costa conta a sua experiência super desagradável na imigração inglesa – uma denúncia muito importante de ser compartilhada.

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Nat Marques é roteirista, formada em Cinema na Fundação Armando Álvares Penteado. Trabalhou de 2016 a 2020 com acessibilidade na comunicação. Em 2019, o curta “O Bosque”, o qual roteirizou e dirigiu, foi selecionado para o Festival Internacional de Cinema de Itabaiana/SE. Em 2020, recebeu menção honrosa no concurso O Legado de Edgar Allan Poe por seu conto “Estrela da Manhã” e, no mesmo ano, foi vencedora do concurso Novos Roteiros Originais, da Organização de Estados Ibero-americanos, na categoria roteiros de série, por seu roteiro “Em Reforma”. Atualmente, trabalha com mentoria, consultoria e leitura crítica de roteiros audiovisuais e narrativas literárias, roteirização para eventos e criação de conteúdo.

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