Nossa criança fala com a gente, só nos resta ouvir | Resenha de “Pequena Coreografia do Adeus”, de Aline Bei
Um soco não doeria tanto quanto essa história e um beijo não seria tão suave quanto a forma como ela se dá. Como é possível tantas emoções colidirem e eclodirem em uma prosa poética como a de Aline Bei em “Pequena Coreografia do Adeus“?
Curioso como esse livro entrega tudo e, ao mesmo tempo, nada. É o crescimento e amadurecimento de uma garota, Júlia, cuja infância é marcada pela violência que sofria em casa, das mãos da mãe, e também de como essa menina teve que lidar com o afastamento do pai após o divórcio entre os dois adultos. Mesmo depois de crescida, a mãe o pai ainda fazem parte de Júlia, mesmo que ela não queira.
Isso porque a pequena Júlia, que menstruou pela primeira vez, que tentou entrar no balé, que descobriu que as palavras podem ser uma alternativa à violência física, também ainda faz parte da grande Júlia. A nossa criança fala com a gente, só nos resta ouvir.
“Pequena Coreografia do Adeus” é uma história sobre aceitação de que, apesar de tudo que você viveu no passado e de onde você veio, ainda há a liberdade e o direito de você se tornar alguém para além de seu antigo eu e de seus pais.
O estilo de escrita de Aline Bei é magnético e viciante. As 300 páginas do livro flutuaram frente aos meus olhos, ressoando no meu coração. Ela ganhou uma nova fã.
3 citações de “Pequena Coreografia do Adeus”
“é uma pena
que a maioria das nossas avós
vão embora antes de virarmos pessoas que sabem aproveitar uma conversa”.
“se eu já me destaco negativamente estando igual a todas
imagine agora
vestida de água e não de Flor”.
“quando a morte ronda as pétalas, o Cheiro cresce, é um grito, mas a nossa impotência é muito grande, queridas, não há nada que possamos fazer”.