OPINIÃO

Sou a Barbie girl, mas só por causa do filme

O filme Barbie tomou conta do mundo durante a semana do seu lançamento: olhe para onde quiser, você verá algum elemento rosa. Nas redes sociais, então, todos os nichos aproveitaram para tirar uma casquinha do filme de Greta Gerwig – inclusive eu. Mas tenho que confessar: nunca fui uma Barbie girl.

Por conta da condição financeira da minha família quando eu era criança, se eu tive duas Barbies originais, foi muito. Minha avó era costureira, então lembro de tentar imitá-la e fazer roupinhas para essas Barbies em questão, mas eu gostava mesmo era de brincar de Polly. Eu era uma Polly girl.

Quando a Polly Pocket surgiu, ela veio para combater essas outras bonecas, com um preço mais acessível. Hoje em dia não é mais assim, os preços se equipararam, porém me lembro que, no início, eu podia ter uma Polly, muitas roupinhas e até a casa da Polly pelo preço de uma Barbie. E eu amava minha Polly.

Mas se eu sou uma Polly girl, por que estou tão envolvida no lançamento do filme da Barbie a ponto de comprar um cardigan rosa-choque? Porque eu entendi tudo que esse filme significa e fico arrepiada só de pensar nas próximas palavras que vou escrever.

Há muitos tipos de Cinema

O filme da Barbie, escrito por Greta Gerwig e Noah Baumbach e dirigido por Greta Gerwig, é um ode às mulheres do mundo real e um grito de “o cinema também pode ser feminino“! Por anos o audiovisual foi dominado por homens brancos hétero. Parece uma frase pronta, mas é simplesmente a realidade.

Poucas foram as mulheres que se destacaram no audiovisual de Hollywood, principalmente em cargos como o de direção. Estamos vendo passos de bebê sendo dados nos últimos anos e, mesmo assim, são poucos. Por décadas, o dinheiro e o prestígio foi para filmes machistas, que objetificavam o corpo feminino e que eram, claro, feitos por homens.

“Barbie” é um filme que quebra essa constante, além de trazer referências do cinema musical e do cinema de entretenimento, deixando o “cult” menos erudito e mostrando que o Cinema de qualidade também pode divertir.

E perdoem-me os fãs de “Missão Impossível”, mas JÁ DEU, NÉ, TOM CRUISE? O lançamento de “Barbie” cortar a segunda semana de lançamento de “Missão Impossível 7″ é uma vitória particular kkkk.

Seja você homem, mulher ou pessoa não-binária, Barbie girl, Polly girl ou Max Steel man,”Barbie” é um marco que merece atenção. O marketing do filme foi além do seu público alvo e se tornou um “se você não tem uma peça rosa no guarda-roupa, você não faz parte da sociedade”.

Barbie e as peças cor-de-rosa no armário masculino

Meu marido tem duas camisetas rosa, mas fomos no shopping ver se achávamos uma nova para ir assistir ao filme. Resultado do passeio: ele vai assistir com uma das velhas mesmo. Não consigo contar em uma só mão o tanto de lojas de departamento que não tinham UMA ÚNICA peça cor-de-rosa na seção masculina. E não estou pedindo rosa-choque, estou falando de qualquer tom de rosa.

Os homens são meio que obrigados a usar só preto, branco, cinza e azul. Se você é mais “diferentão”, pode apostar num verde ou vermelho. Rosa, roxo ou laranja? Jamais. Vi essa trend no Twitter esses dias, que me fez refletir bastante sobre a moda “masculina” dos últimos anos e como fomos condicionados a pensar no masculino como “sem graça e desleixado”.

Depois de começar a namorar com um homem hétero, vivo em constante contato com um mundo em que era apenas “sofrido” por mim: o dos micro-machismos. Trabalho, com prazer, para mudar isso dentro de casa. Graças a Deus, tenho um marido consciente e flexível, que consegue entender o que eu falo e levar para o dia a dia. Ele sempre vestiu muitas cores, nunca ligou para a frase “rosa é de menina”, mas hoje vejo que a moda não binária para ele não é algo tão distante quanto há 7 anos.

Ele não se importa se o shorts é mais curto – inclusive sabe que deve ser acima do joelho para valorizar o seu tipo corporal -, ou se podemos trocar de calçado, já que vestimos o mesmo número. Claro que ele tem o estilo dele e eu tenho o meu, mas ver as pequenas mudanças no guarda-roupa de um homem com pensamentos machistas enraizados é como ver o arco dramático externo de um personagem que está também tendo mudanças internas.

Quem é o verdadeiro namorado da Barbie?

E essas mudanças internas e externas de muitos “Ken’s” da vida nos leva a pensar sobre relacionamento também. Vi um meme esses dias que era “todos sabemos que o verdadeiro namorado da Barbie é o Max Steel”, porque era o brinquedo que muitas meninas tinham em casa. Vamos falar a verdade, quem comprava o boneco do Ken?

A criação de um namorado para a Barbie foi mais uma maneira de trazer pensamentos machistas enraizados para a brincadeira: por que ela precisava de um namorado específico?

Como escrevi nesse artigo, na Scriv, fomos condicionadas a conectar o “final feliz” com o relacionamento estável. Mas caramba, você pode ser feliz sozinha! Assim como pode ser feliz em dupla, em trio, mas sem colocar a responsabilidade no outro.

Uma piada trazida no filme da Barbie é que a Barbie sem o Ken ainda é alguém, mas o Ken sem a Barbie não é ninguém. Por favor, não seja o Ken. Todos nós somos alguém e é importante a gente encontrar essa personalidade antes de tentar preencher o nosso ser com um relacionamento.

Por isso eu digo que a Barbie não deveria ter um namorado e eu sou a favor da Barbie louca dos gatos ou da Barbie dou para quem eu quiser.

Agora me conta aqui nos comentários quais foram as reflexões que o filme “Barbie” e sua publicidade impecável te trouxeram!

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