Foto do poster de The Worst Person in The World
OPINIÃO

Me deixe ser cringe!

Quais são seus planos para daqui cinco anos? Uma pergunta tão comum em entrevistas de emprego. A resposta é, normalmente, a que a recrutadora ou o recrutador quer ouvir; poucas vezes colocamos a realidade neste retorno. Afinal, em 5 anos muito pode mudar, estagnação não é uma opção, mas ninguém sabe do futuro. Esse é o âmago de “The Worst Person In The World“, comédia norueguesa (ou drama, depende da sua fase da vida atualmente) escrita por Eskil Vogt e Joachim Trier, dirigida por Joachim Trier.

Indicado à categoria de melhor roteiro original e melhor filme estrangeiro no Oscar 2022, “The Worst Person In The World” é uma crônica capitulada de quatro anos da vida de Julie, uma jovem mulher que acaba de completar seus 30 anos e, ao mesmo tempo que sabe o que quer da vida, não faz a menor ideia – quem sempre?

Com a temática comming of age, há uma conexão instantânea com os espectadores millennials e limbos (como gosto de chamar os de 96, 97 e 98 que não se encaixam nem em Y, nem em Z), que vestem os mesmos sapatos de Julie. Se você é uma mulher millennial, a identificação fica ainda maior com a pressão da maternidade batendo à porta. Aliás, um tema recorrente em diversos filmes lançados nos últimos meses, como “Madres Paralelas” e “A Filha Perdida”.

Julie: a pior pessoa do mundo?

Uma protagonista feminina forte, decidida, um pouco confusa, mas segura de si. Julie, interpretada por Renate Reinsve, vencedora da categoria de melhor atriz em Cannes 2022, é uma personagem esférica e apaixonante. É animador ver uma personagem feminina tão real ser retratada nas telas – mesmo sendo escrita por um homem – e não o ideal feminino, já marcado pelo patriarcado, que tanto vemos no Cinema.

Se fosse necessário eleger a pior pessoa do mundo (tradução para The Worst Person in The World), muito provavelmente nossos pais e avôs poderiam dar esse título à Julie, ou a mim, a você, qualquer pessoa que já tomou decisões parecidas com a da personagem.

Julie não quer ser mãe. Pior pessoa do mundo. Julie não firma em um emprego. Pior pessoa do mundo. Julie sente atração por um homem fora do casamento. Pior pessoa do mundo. Julie é humana. Opa, todos somos.

A trilha sonora de milhões

Coloquem como “mimimi”, mas esse julgamento entre gerações existe e é bem visível. Mas há algo que une a todos, não importa a idade, geração, traumas: a música. E a trilha sonora de “The Worst Person in The World” merecia todos os prêmios do mundo. Ao mesmo tempo que traz canções da infância e adolescência da personagem (final dos anos 80 e anos 90), cada música evoca o motivo do capítulo em que está inserida.

Um holofote especial para “Águas de Março” (versão de Art Garfunkel) fechando o verão da vida de Julie e inserindo-a em um outono maravilhoso que será a maturidade.

Millennials, uni-vos!

Essa maturidade vai chegar a todos, cada um no seu tempo. E nesse momento, nós, millenials e limbo, devemos fazer um ode ao nosso verão. É escritor? Escreva sobre o seu verão. É diretor? Dirija um filme tão lindo como este. É pintor? Faça uma série sobre o verão da sua vida. Não esqueça, não deixe no passado, guarde o sentimento e faça com que ele floreça.

E que fazer até o outono? Viver, acumular experiências, fazer o que bem entender, raramente pensando em consequências drásticas, afinal, você não se imagina como a pior pessoa do mundo daqui a cinco anos, mas se você virar, com certeza vai ter histórias para contar.

“The Worst Person In The World” atualmente está disponível nos cinemas brasileiros, ainda sem notícias para qual streaming migrará depois das telonas – mas assim que isso for atualizado, falo para vocês. Ele entrou no meu TOP 10 de filmes favoritos, então eu indico fortemente que você assista. Bom cinema! 🙂

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Nat Marques é roteirista, formada em Cinema na Fundação Armando Álvares Penteado. Trabalhou de 2016 a 2020 com acessibilidade na comunicação. Em 2019, o curta “O Bosque”, o qual roteirizou e dirigiu, foi selecionado para o Festival Internacional de Cinema de Itabaiana/SE. Em 2020, recebeu menção honrosa no concurso O Legado de Edgar Allan Poe por seu conto “Estrela da Manhã” e, no mesmo ano, foi vencedora do concurso Novos Roteiros Originais, da Organização de Estados Ibero-americanos, na categoria roteiros de série, por seu roteiro “Em Reforma”. Atualmente, trabalha com mentoria, consultoria e leitura crítica de roteiros audiovisuais e narrativas literárias, roteirização para eventos e criação de conteúdo.

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