Ao fundo, foto de uma cena do filme "Rua do medo - 1994 - parte 1". À frente, em letras brancas, "a falta de sensibilidade frente à violência cinematográfica".
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A Falta de Sensibilidade Frente à Violência Cinematográfica

Em 1896, na primeira exibição do curta-metragem “A chegada de um trem na estação“, o primeiro filme dos Irmãos Lumière a ser exibido nas telas do cinema, o público levou um grande susto e saiu gritando, imaginando que aquele trem sairia da tela e atropelaria a todos ali. Os anos se passaram, o cinema evoluiu, assim como o público, e essa sensibilidade frente à ficção foi diminuindo.

Cada vez mais são criadas tecnologias para que a experiência cinematográfica se torne novamente sensorial e provoque emoções como em “A chegada de um trem na estação” – sessões 3D e 4D só provam a ânsia por ter esses sentimentos de volta. Mas o espectador já está tão anestesiado que tudo que é mostrado na tela vem na versão mais extrema, inclusive a violência.

Assistindo ao filme original Netflix “Rua do Medo – 1994 – Parte 1” eu fiquei assustada com uma das cenas finais. Sim, filmes de terror normalmente têm uma dose de violência maior que outros gêneros, e já estamos acostumados com isso. Mas essas cenas deveriam chocar, não é? Uma cena como em “Hereditário” (2018), em que uma pessoa é decapitada ou até mesmo a cabeça virando 360º em “O Exorcista” (1973) assustam, chocam, e o corpo tem uma reação instantânea, como um grito, um gemido ou uma contração muscular. A cena em “Rua do Medo – 1994 – Parte 1” me fez ficar boquiaberta.

Quem já assistiu ao filme provavelmente sabe de qual cena estou falando; quem ainda não assistiu, vai entender quando assistir. Resumindo: envolve uma máquina de trituração. Eu fiquei boquiaberta não pelo nível de violência, mas por essa cena estar em um filme amplamente divulgado e assistido, em um dos maiores serviços de streaming do mundo. É realmente muito forte, principalmente porque o espectador não foi preparado durante o filme para uma cena de tamanho impacto.

“Mas isso é bom, surpreendeu”. Não acho que seja tão bom assim. Quanto mais violência é mostrada, a sensibilidade diminui – inclusive no mundo real. Pode parecer besteira, mas quanto mais assistimos a uma coisa, mais normal fica, inclusive o sangue e a violência gratuita. E quanto mais normal fica, os futuros criadores vão ter que apelar para cenas ainda mais extremas e isso é uma constante e uma crescente. E me preocupa.

A sensibilidade humana pode – e deve – ser testada, colocada à prova e, é claro, sentida, mas é importante refletir sobre a que ponto estamos chegando e se estamos aceitando cenas absurdas como comuns, ordinárias e até “fracas”.

Fui assistir a “Vingadores: Ultimato” no cinema 4D. Foi uma das piores experiências cinematográficas que eu já tive: a cadeira se mexia e eu levava pequenos socos nas minhas costas durante as cenas de ação… foi péssimo, mas me faz pensar: será que em 30 ou 40 anos esses socos podem se tornar pequenos cortes ou algo realmente doloroso, só pra provocar uma reação no espectador? É um cenário distópico, que espero que não se realize, mas é um cenário possível.

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