#pracegover audiodescrição resumida: ilustração em fundo cinza. No lado direito, oito riscos de diferentes tamanhos e cores descem do topo da ilustração. Ao lado dos riscos o escrito em azul escuro: "O luto como tema recorrente em indicações ao oscar".
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Luto: um tema recorrente nas obras indicadas ao Oscar

2020 e 2021 foram anos em que muitas pessoas se foram de forma abrupta. Um vírus, um ser invisível a olho nu, veio revelar como o ser humano é pequeno e fraco. O luto, por coincidência ou não, é um tema recorrente nos filmes indicados ao Oscar. Presente em vários deles, mesmo que de forma secundária, os personagens sempre estão feridos pela saudade.

Não é comum uma premiação como a Academy Awards ter um tema geral. Há assuntos que se repetem, que aparecem com certa frequência em diversas categorias, dependendo do ano, mas o Oscar 2021 tem duas grandes temáticas: o movimento negro, também presente em grande parte dos filmes e a perda de um ente querido, do qual falará este artigo.

O luto, assim como a morte, é um processo natural, e é importante que ele seja vivido, em todas as suas fases. Nos filmes aqui mencionados, há personagens que convivem com tais fases, passando por algumas delas para completar sua jornada. Outros fogem desse luto, ainda estão em fase de negação. E outros, nem tem consciência pelo o que estão passando (normalmente, crianças), mas ao final, aceitam a morte como algo maior e com significado.

Tentando fugir do luto

Na categoria “melhor filme” há dois que apresentam o luto em forma de negação: “Nomadland” (dir Chloé Zhao) e “Bela Vingança” (dir Emerald Fennel). Ambos são filmes dirigidos por mulheres, o que leva a premiação 2021 a bater um recorde de inclusão, já que é a primeira vez que duas mulheres são indicadas à categoria de melhor direção, em quase 100 anos.

Em “Nomadland”, favorito a ganhar melhor filme e melhor direção, vencedor do Globo de Ouro de ambas categorias, a protagonista não consegue se separar da vida que construiu junto com seu falecido marido. Inclusive, não consegue se livrar de um presente dado por ele há anos atrás. Ela só vai conseguir seguir sua jornada, sem qualquer empecilho, quando aceitar que é necessário seguir em frente e construir uma nova vida, sozinha.

Já a protagonista de “Bela Vingança” vive um arco um pouco diferente. Seu luto está baseado em vingar a morte de sua amiga – de modos não ortodoxos.  Tal luto não é nem um pouco saudável, e isso faz parte da personagem. Essa protagonista é muito bem construída em cima do princípio de negação e vingança.

Vivenciando o luto

Indicada a melhor atriz, Vanessa Kirby, em “Pieces of a Woman”, viveu uma personagem que perde sua filha recém nascida. O espectador acompanha essa mãe vivenciando cada parte do luto e superando seus obstáculos, suas dores, da melhor forma que encontra.

Apesar de ser uma ótima forma de construir um arco dramático, a construção de todas as fases do luto, esse é o único filme de 2021 que relata todos esses saudáveis momentos. Desde a perda, até a aceitação, a protagonista constrói símbolos, para ajudá-la a passar por todos os problemas, acarretados pela morte da bebê – ou evidenciados por ela.

O que estou sentindo?

Será mesmo que as crianças não tem consciência do luto? De acordo com estes três filmes, elas reconhecem um sentimento, mas não sabem exatamente o que é. Em “Dois irmãos”, animação da Disney Pixar, o protagonista está vivendo uma espécie de luto tardio. A ânsia por conhecer o pai, ter o tempo perdido recuperado, o leva a viver esse luto tardio, pois não é mais criança e tem plena consciência de que seu pai não voltará à vida.

O mesmo acontece em “A Caminho da Lua”, onde a protagonista, mesmo depois de quatro anos da morte de sua mãe, se vê compelida a não aceitar sua morte e a seguir em frente. Ela vai descobrir isso e aceitar a morte de sua mãe apenas ao fim de sua aventura. O mesmo acontece com a “antagonista” da história, que há séculos vive em negação. Juntas elas vão aceitar que tudo ficará bem e que o futuro pode ser brilhante, mesmo sem aquela pessoa querida fisicamente ao seu lado.

Em “Rosa e Momo”, o protagonista ainda está machucado psicologicamente pela morte de sua mãe. Ele a sente, ele ainda conversa espiritualmente com ela, e tem muitas saudades, mas não aceita que é preciso seguir a vida adiante. É necessário que ele passe por um segundo luto para, finalmente, superar o de sua mãe.

Os símbolos

A morte, a outra vida (em outro plano) e a superação sempre foram simbolizadas de diversas maneiras, em diferentes culturas. Nesses filmes, há símbolos importantes de serem notados. Em “Nomadland”, o objeto que liga a protagonista ao falecido marido, é quebrado. Quem já passou pelo luto sabe como objetos materiais são importantes num primeiro momento, como uma ligação ainda existente com quem se foi.

Quando esse objeto quebra – no filme – uma fase do luto começa a ser completada (e é ainda mais simbólico o modo como ele quebra). Em “A Caminho da Lua”, quando a cegonha – símbolo de fertilidade no Ocidente, mas no Oriente, símbolo de imortalidade -, voa para o céu, a protagonista percebe que, mesmo morta, sua mãe estará ali olhando por ela. Em “Rosa e Momo” o garoto tem a mesma percepção: a tigresa, que sempre está com ele, vai continuar com ele, e ele tem que estar feliz por conta disso.

 

Não é novidade para o Cinema retratar o luto, mas em um ano atípico como o que passou, tais simbolismos e superações ficcionais são necessárias para catarse e esperança.

Comente aqui embaixo se você já assistiu algum desses filmes e o que achou deles. O Oscar 2021 acontece dia 25 de abril. Veja minhas apostas e aguarde o artigo e o vídeo sobre os vencedores!

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