#pracegover audiodescrição resumida: foto de fundo preto. À esquerda ilustração de um corpo com os braços abertos em formato de cruz. O corpo é desenhado por linhas brancas e possui um círculo de linhas brancas circundando-o. À direita, dois rostos, um ilustrado com as mesmas linhas brancas e outro, real, de uma mulher branca. No centro da foto, retângulo branco com os escritos "perfil de personagem".
ESCRITA

7 Passos para Construir um Ótimo Perfil de Personagem

A criação de um personagem faz parte da jornada de escrever uma história — seja ela ficcional ou não. Os personagens são um dos elementos da narrativa, ao lado do enredo, do tempo, espaço e narrador.  A habilidade de criar e reconhecer um bom personagem te dará segurança durante toda a criação da obra; e escrever um perfil de personagem completo e estruturado vai te ajudar, muitas vezes, na trama como um todo.

Essa segurança pode vir por você estar se baseando em arquétipos, seguindo uma jornada, ou pelo fato de você ter criado um personagem forte que puxa as aventuras para si. Jack Sparrow, por exemplo, de “Piratas do Caribe”, é um personagem que não consegue ficar parado, a aventura e as ações o chamam, de forma que o trabalho do escritor se torna mais fluído.

Mas para não se perder quanto a sua personalidade e não torná-lo contraditório durante a obra — é essencial que coesão e coerência sejam trabalhadas também nesse elemento da narrativa —, você deve construir uma ficha técnica dele, quase um documento de identidade, que irá te guiar durante a criação. Essa ficha é o perfil do personagem. Neste post vou falar de 7 passos básicos para conseguir criar perfis de personagens; é ideal que você os crie para todos os personagens que possuem algum papel principal na história, não só o protagonista. Além do que elenquei aqui, é claro que você pode customizar essa lista para o que faz mais sentido frente ao seu método criativo e à obra que está escrevendo.

1 – Básico do Básico

Esse primeiro ponto da lista você vai perceber que será fácil de preencher, porque são informações que você até já escreveu, caso já tenha iniciado a obra. Nome e Idade. Essas são as duas primeiras e grandes informações que você terá do seu personagem, mas que já dizem muito sobre ele.

O nome completo, na maioria das vezes, revela a descendência, ou seja, questões familiares e morais podem surgir justamente daí. Em “O Poderoso Chefão”, por exemplo, o sobrenome Corleone tem um peso enorme para os personagens, é algo que guia a trama.

A idade ditará o modo de falar do seu personagem e o modo de pensar, mesmo que a sua história esteja em outro tempo narrativo que não o atual. Por exemplo, um personagem que está no auge da juventude em 1969 e passa os próximos anos lutando pelo fim da ditadura vai ter um pensamento e um modo de falar diferente daqueles que nessa época já estavam com mais de 50 anos. São as diferentes gerações, e você deve ter bem clara a geração em que o seu personagem está inserido.

2 – Aspectos Físicos

Definir os aspectos físicos será importante por dois motivos: em primeiro lugar, para seu leitor conseguir imaginar aquela personagem de maneira mais vívida; em segundo, o aspecto físico da personagem pode ligá-la à uma luta social, e essa causa pode, inclusive, ser a base do seu enredo (neste post não entraremos na questão de lugar de fala).

Estando intimamente conectado com o psicológico e o social do personagem, até mesmo o modo de vestir é importante de se definir nos aspectos físicos, porque muitas vezes isso vai se transformar na jornada do seu personagem (junto com ele).

Ao definir os aspectos físicos, você passará por características como altura, peso, cabelo, pele, tipo de corpo, vestimenta, cor dos olhos, deficiência etc. Mas lembre-se que tudo que você descrever aqui estará diretamente ligado aos aspectos sociais e psicológicos dele também, nenhuma escolha será puramente estética.

3 – O Perfil Social da Personagem

Definir como a sociedade enxerga o seu personagem e como ele se coloca vai ser essencial para a construção de suas cenas. O modo como ele se porta, por exemplo, em um jantar, pode fazer uma grande cena de comédia ou dar início a um drama.

Respondendo algumas perguntas básicas, você vai reconhecer quem é exatamente essa pessoa que você está criando. Além das perguntas que eu vou elencar a seguir, muitas outras podem ser adicionadas. Acho interessante você olhar para si mesmo e pegar elementos de como a sociedade te reconhece.

Qual a classe social do seu personagem? Formação e profissão? Qual o seu posicionamento político? Qual a religião ou crença do seu personagem? Ele tem uma vida sexual ativa? Como ele se porta frente a certas situações? É um personagem respeitado pelos outros? Perceba que ao responder essas perguntas, muita coisa já vai se iluminando em sua mente, clareando as ideias.

4 – Moral da Personagem

Os aspectos psicológicos podem ser separados em dois pontos. É importante que eles sejam trabalhados, pois vão refletir diretamente no físico e no social. Pode ser que aqui você tenha algumas divergências, por isso é importante estar aberto à mudanças nas questões anteriores.

Definir a conduta moral, principalmente de heróis e vilões, pode ser um ponto crucial para: tornar o seu herói um anti-herói e/ou humanizar o seu vilão. Tal conduta pode ser desde não achar errado socar alguém por auto-defesa, até ser a favor da pena de morte.

Em “Os Miseráveis“, de Victor Hugo, Jean Valjean roubou um pão e acabou sendo condenado à prisão por cinco anos. Depois de várias tentativas de fuga, ele fica preso por 19 anos. Quando sai da prisão, percebe que o grande sofrimento que ele passou não foi culpa dele, na verdade é culpa da sociedade, pois a única coisa que ele fez foi pegar algo para comer. A única pessoa que o acolhe é o Bispo Don Bienvendu. Jean Valjean porém, na calada da noite, rouba diversas pratarias da igreja, e quando pego pelos policiais, Don Bienvendu o perdoa, criando em Jean Valjean uma nova visão de esperança na sociedade.

Percebe como fica clara a moral de ambos os personagens e como é fácil de caracterizá-los com esses feitos? E isso é apenas uma pequena parte do romance de Victor Hugo, que tem como marca justamente esses personagens fortes que refletem a moral da sociedade.

5 – As Transformações da Personagem

Outro aspecto psicológico será indicado justamente pela transformação que sua personagem irá sofrer durante o arco da história. Então, no início, alguma falha de caráter existirá e ficará bem exposta — por meio de cenas —, a ponto de, ao final, as ações contrárias sejam bem identificadas.

O seu personagem é arrogante? É egoísta? Talvez ele seja extremamente inseguro ou imaturo. Algo irá se transformar no interior do seu personagem e logo de início você tem que ter clareza do que será.

Em “O Retrato de Dorian Gray“, de Oscar Wilde, Dorian, após conhecer o modo de pensar de Lorde Henry, se torna narcisista a ponto de vender a sua alma para manter sua beleza e fazendo seu retrato envelhecer em seu lugar. Ao final da história, porém Dorian percebe que a vaidade o consumiu de forma que ele não se percebe mais como ele mesmo, não se reconhece, e que seus erros devem ser absolvidos de alguma forma. Não vou contar como ele fará isso, mas só com esse resumido arco, já percebe-se que a transformação interna do personagem acontece e é grande. Ele possui a falha de caráter, que é o narcisismo, que ao final é absolvida.

6 – Motivação

Sem motivação não há história. Ao construir um personagem, deve-se compará-lo a uma pessoa real, e você já conheceu alguém sem nenhuma motivação? (nem que a motivação seja levantar da cama no dia seguinte).

Por isso, é importante que você crie motivações para o seu personagem, intenções e incentivos que o façam seguir adiante e continuar com sua jornada. Muitas vezes essas motivações estarão ligadas ao momento da vida que ele está passando. Além disso, quanto mais motivações internas e externas ele tiver, mais fácil será para contar essa história.

Por exemplo, um homem está extremamente infeliz no seu trabalho (motivação interna 1), no seu dia a dia o que o alegra é consumir coisas inúteis. Um dia ele reconheceu que ir à grupos de reabilitação e doenças lhe fazia bem (motivação interna 2), mas uma presença constante nos grupos o incomodou (motivação externa 1). Então, seu apartamento pegou fogo e tudo o que ele consumiu foi, ironicamente, consumido pelas chamas (motivação externa 2).

Esse é o início da trama de “Clube da Luta” e veja quantas motivações e incentivos o personagem teve para mudar a sua vida, o seu mundo comum. A primeira delas, a infelicidade no trabalho, serve de trama para muitas e muitas histórias.

7 – Escreva a História Pregressa do seu Personagem

Escrever a história de vida do seu personagem até o momento da narrativa, além de ser um ótimo exercício de escrita, vai te ajudar a reconhecer quais os passos anteriores que o levaram até ali. Não esconda detalhes — eles que tornam o seu personagem mais humano.

Há diferenças e igualdades entre o real e a ficção, e são justamente os detalhes que vão criar a verossimilhança na sua obra. Não deixe de lado o que você colocou no perfil do personagem nos passos anteriores quando você for escrever a história pregressa.

 

Nem tudo vai ser contado no livro, no filme ou na série, mas é importante saber todos esses detalhes para que o personagem se torne alguém real para você e que, como escritor, você crie intimidade com ele. Alguns aspectos, principalmente os psicológicos e sociais, poderão ser indicados sutilmente em formatos de cenas ou passagens, sem que você tenha que indicar abertamente como “Miriam era uma garota egoísta”.

Conhecer o seu personagem fará o seu trabalho de criador ser muito mais harmônico e fluído. Você já escreveu perfil de personagem alguma vez? Prefere escrevê-lo em formato de ficha ou texto corrido? Conta um pouco aqui nos comentários.

 

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Todas as imagens deste post possuem #pracegover com audiodescrição resumida.

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